Bernardo nasceu com 48cm e 3,460 quilos, e não precisou de cuidados extra. Depois dos exames e do raio-X, a pediatra confirmou que realmente o bebê tinha nascido com acondroplasia, uma variação dos mais de 400 tipos de nanismo. O menino tinha uma doença genética que causa várias alterações ósseas, entre elas o encurtamento dos ossos longos e alterações no desenvolvimento do crânio e da coluna. Sua altura máxima vai ficar em torno de 1m40cm.
Dois meses depois, o casal ainda fez uma análise genética a partir do sangue do filho, o que confirmou 100% a acondroplasia.
– É aquele que a gente vê na rua, na televisão – descreve o geneticista paulista Wagner Baratela, especialista em nanismo.
"Ele não é um gnomo, não é um duende"
Nem sempre foi assim dispara o especialista em nanismo Baratela, os egípcios, por exemplo, tinham um respeito pelas pessoas com nanismo.
– Temos registros históricos de algumas estátuas que foram encontradas no Egito antigo em que os indivíduos eram caracterizados exatamente como o portador de acondroplasia, e as estátuas remontavam a alguma figura importante dentro da realeza – afirma Baratela.
Esse respeito está em falta no século 21, que ainda assiste a anões de circo, anão go-go boy, lançamento de anão. Baratela comenta:
– A exploração da mídia, em cima da brincadeira, fortalece o preconceito.
A advogada Kenia Rio, uma das organizadoras do 1º Congresso de Nanismo no Brasil, realizado em outubro no Rio, acredita que é possível mudar a visão da sociedade. Ela cita Flávia e Fábio como exemplo de uma realidade pouco conhecida no Brasil – a de que praticamente 90% dos pais de filhos com acondroplasia, o tipo mais comum de nanismo, são indivíduos de estatura normal.
–O mecanismo genético envolve uma mutação nova, que aconteceu só no desenvolvimento daquele bebê. Ou seja, os pais não carregam essa alteração – explica Baratela, acrescentando que a alteração óssea pode ser percebida, nas ecografias, a partir da 20ª semana de gestação.
– E esses pais têm de estar preparados para entregar a criança com nanismo à sociedade – aponta Kenia.
– Eu não quero outro Bernardo, nem a Flávia. Ele teria que ser assim. Primeiro a gente se descontrói, mas depois constrói tudo de novo – reflete o pai.
Publicado originalmente por gauchazh.clicrbs.com.br